ORIGEM
O Departamento destinava-se a estimular o desenvolvimento cultural, por meio de reuniões sociais recreativas. Era um movimento estudantil com alunos de diversas camadas sociais e segmentos étnicos, que levantava-se em favor das tradições. O objetivo era achar uma trilha diante da perda da fisionomia regional; combater a descaracterização; reagauchar o Rio Grande. Em suma: procuravam a identidade da terra gaúcha. Aprovada a idéia, o Grêmio Estudantil do “Julinho”, enviou a Imprensa da Capital, um comunicado, cujo primeiro parágrafo dizia: “O Grêmio Estudantil Júlio de Castilhos, sentindo a necessidade da perpetuação das tradições gaúchas, fundou, aliando aos seus já numerosos Departamentos, o das Tradições Gaúchas, procurando assim, preservar este legado imenso dos nossos antepassados, constituído do amor à liberdade, grandeza de convicções representadas pelo sentimento de igualdade e humanidade”.
No Departamento de Tradições Gaúchas do Grêmio estudantil Júlio de Castilhos decidiram realizar a “1ª Ronda Gaúcha”, que logo passaria a ser chamada de Ronda Crioula. Esta iniciou no dia 7 de setembro, com uma programação que se estendeu até o dia 20 daquele ano de 1947. O programa previa o acendimento de um Candeeiro Crioulo, o primeiro baile gauchesco que aconteceu no Teresópolis Tênis Club, no dia 20 de setembro à noite, concursos de trajes regionais, palestras, concurso literário e uma série de momentos eqüestres. A decoração do local era feita de apetrechos campeiros (laços, guampas, pelegos, ninhos de João-de-Barro) além de um fogo-de-chão, onde se esquentava água para chimarrão e assava-se uma carne.
Participam como convidados especiais o jornalista e escritor Manoelito de Ornellas e o desenhista de motivos campeiros e declamador gauchesco, Amândio Bicca. A eles coube julgar os gaúchos e as prendas mais tipicamente vestidos, sendo que a presença do ilustre historiador Manoelito de Ornellas, no baile, causou forte impressão ao proferir um inflamado discurso às causas regionalistas, manifestando sua crença naqueles jovens e nos objetivos a que se propunham alcançar. À beira de um verdadeiro fogo-de-chão, mateando e tomando café-de-chaleira, Barbosa Lessa ventilou a idéia de fundar uma agremiação civil gauchesca. Iniciava-se aí o tradicionalismo como força viva popular. Esta Ronda Crioula foi, na verdade, a precursora da Semana Farroupilha, oficializada somente 17 anos mais tarde, através da Lei Estadual 4.850, de 11 de dezembro de 1964.
Paixão Côrtes, que dirigia o Departamento foi procurar o Presidente da Liga de Defesa Nacional e disse-lhe que gostaria de retirar uma centelha do Fogo Simbólico da Pátria no momento da sua extinção no dia 7 de setembro e transportá-la até o Colégio Júlio de Castilhos. Lá acenderia um candeeiro típico, num altar cívico como parte das comemorações da Ronda Gaúcha, no que foi autorizado. Naquele ano de 1947, a Liga de Defesa Nacional, presidida pelo Major Darci Vignoli incluiu na programação alusiva à Semana da Pátria, a transladação dos restos mortais do General Farroupilha David Canabarro, de Sant’Ana do Livramento para o Panteão da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre. Para este acontecimento tão importante, entendeu o Major Vignoli que era do maior significado cívico que a guarda de honra fosse composta por uma representação de gaúchos tipicamente trajados, que traduzisse a alma da terra e o espírito farroupilha. Pessoas que lembrassem os tempos gloriosos dos nossos estancieiros e suas peonadas, que enfrentaram durante 10 anos todo o Império.
Diante da inexistência de uma representação com estas qualidades, o Presidente da Liga solicitou ao Departamento de Tradições do “Julinho” um piquete de gaúchos para montar guarda à urna com os restos mortais do grande Herói Farrapo. Com muito custo Paixão conseguiu mais cinco jovens para a empreitada, totalizando oito componentes. Estava formado o Piquete da Tradição, grupo esse que passaria para a história, no 1º Congresso realizado em julho de 1954 em Santa Maria, quando foi batizado como o “Grupo dos Oito”. Próximo da meia-noite do dia 7 de setembro de 1947, os jovens, João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, Cyro Dutra Ferreira e Fernando Machado Vieira, devidamente montados, aguardavam junto a Pira. Chegando o momento da extinção do Fogo Simbólico da Pátria, foram chamados para a retirada da centelha, conforme haviam acordado. Paixão Côrtes subiu ao topo da Pira com um archote improvisado, feito de estopa embebida em querosene presa a ponta de um cabo de vassoura e solenemente acendeu aquela que seria a primeira Chama Crioula. Dali, os três cavaleiros, conduziram a galopito a centelha até o “Julinho”, onde acenderam o Candeeiro Crioulo.
A Chama Crioula é o fogo que simboliza fertilidade, calor, claridade, ardor, paixão, hospitalidade e coragem. Simboliza, enfim, a Tradição Gaúcha. Representa o gaúcho idealizado no espírito heróico dos Farroupilhas, com os ideais de justiça e liberdade, visando a aproximação dos povos.
Fonte: Chama Crioula 2011