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Ocupação territorial das Missões


A ocupação do território que hoje conhecemos como Rio Grande do Sul, remonta aproximadamente ao ano 10.000 antes da era cristã, no final da grande glaciação, quando animais gigantes sobreviviam da escassa alimentação do ambiente desértico e extremamente frio. Os primeiros homens a pisar neste solo, vieram da Ásia em intermináveis peregrinações que passavam pelo norte e o centro do imenso continente americano. Pequenos grupos, que sobreviviam da caça, da pesca e da coleta imprimiram sua marca nos abrigos rochosos da borda do Planalto e na confluência dos arroios do Rio Uruguai - entre eles o rio Ijui - disputando palmo a palmo a alimentação com os animais e consolidando as primeiras tradições paleoindígenas do Rio Grande do Sul. De 4 a 2 mil anos antes da era cristã, um longo período de transformações climáticas foi definindo o surgimento de novos grupos humanos e o desaparecimento de algumas espécies animais. A umidade e a temperatura atingiram seu grau máximo, criando uma paisagem tropical úmida. As geleiras derreteram e os rios passaram a ser caudalosos, os mares se elevaram chegando até as lagoas. A floresta subtropical invadiu os campos e os pinheirais se retraíram às partes mais altas do Planalto. Com a vegetação e alimentação farta, os grupos se expandiram e passaram a ocupar todo o território que abrange o cone sul.

É do final deste período, mais ou menos à 5 milênios que os Tupi Guarani saíram da Amazônia Peruana em direção ao Vale do Mamoré, dando início ao ciclo das maiores peregrinações que se tem conhecimento na história do nosso continente. Em 500 AC, impulsionados pela agricultura semi-nômade, pela canoagem, pela índole guerreira e principalmente pela busca do Ivy Mara Ey - a Terra sem Males, uma parte dos Guarani desceram o rio Madeira e ocuparam a Amazônia brasileira, outros seguiram o rumo do Jiparaná, povoando a Bacia do Prata, para, em seqüência povoar o litoral Atlântico, até fechar o circulo e recontatar, no século 17, seus parentes na Amazônia. O tronco lingüístico tupi guarani, que ia do Caribe ao extremo sul da América, foi, na época, com o idioma árabe, o mais falado da terra.

Na área do atual Rio Grande do Sul, os guaranis ocuparam as terras férteis do rio Uruguai até o litoral, impondo aos outros grupos existentes, sua cultura e seu modo de ser. Viviam em aldeias coletivas, eram horticultores, conheciam a cerâmica e a pedra polida. Desenvolveram a plantação de muitos vegetais nativos - comestíveis e medicinais- nas suas roças em meio à floresta.

Entre as contribuições que legaram para o povo gaúcho, estão os termos lingüisticos, entre eles os nomes de rios, localidades e da fauna e flora; o folclore com suas lendas, cantos e brincadeiras; o cultivo de inúmeras plantas; alguns hábitos alimentares como o churrasco e o chimarrão; os caminhos que deram origens as atuais estradas, etc.

Foi junto à estas comunidades indígenas, que os jesuítas desenvolveram o projeto da conquista espiritual, a serviço da Coroa espanhola. As Missões Jesuíticas representaram uma das formas de colonização na América, com a dupla função de assegurar territórios conquistados e catequizar os povos nativos. Para tanto, foi fundada a Província Jesuítica do Paraguai, estruturando maneiras peculiares de apropriação rural e urbana, através de um sistema social cooperativo que desenvolveu-se durante o século XVII e meados do século XVIII em uma vasta área hoje pertencente ao Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. No período de pleno desenvolvimento foi criada uma rede com mais de 30 povoados, além de estâncias, ervais, invernadas, etc. Todas as estruturas eram interligadas por estradas, formando uma complexa malha viária, com as mais diversas funções.

O encontro de duas culturas diferenciadas, a guarani e a européia, deu origem a um novo modo de ser, o missioneiro, desenvolvido com base em uma rígida organização social e econômica que os destacou no contexto colonial. A originalidade da cultura guarani, alicerçada no solidarismo e reciprocidade encontrou nas inovações técnicas trazidas da Europa, como a escrita, imprensa, metalurgia, arte e arquitetura barroca, as condições ideais para o grande desenvolvimento alcançado.

As disputas e interesses políticos entre Portugal e Espanha determinaram as guerras Guaraníticas (1754-1756), a expulsão dos jesuítas da América (1767-68) e a conseqüente decadência das Missões. Os índios missioneiros, revoltados com as ações das cortes ibéricas e sem o apoio dos padres jesuítas, aos poucos abandonaram os povoados dispersando-se pelo território platino. E a floresta tomou as cidades abandonadas, e toda a experiência desenvolvida em 150 anos ruiu junto às paredes de pedra e barro.

Vencidos, espoliados e despojados de suas terras, os guaranis foram reduzidos a pequenos grupos errantes que atualmente sobrevivem da confecção e venda de artesanato. Alguns estão em reservas, onde lutam para manter suas tradições e pela manutenção da posse das terras e a preservação da natureza.

No período das disputas pelo território das Missões, que a partir de 1801 foi conquistado para o Brasil, as reduções foram saqueadas inúmeras vezes, e a partir de 1825, com a chegada dos imigrantes, grande parte do material foi reutilizado em construções públicas e privadas, acelerando o processo de destruição das antigas edificações.

O Caminho das Missões Jesuítico-Guarani, propõe uma jornada de auto conhecimento e de contato com a realidade do passado missioneiro, percorrendo parte das antigas estradas dos jesuítas e guaranis. E mais que tudo, propicia uma integração com o atual povo das Missões, que encanta por sua hospitalidade, autenticidade e solidariedade, fazendo desta peregrinação um motivo muito forte para tornar possível a busca da "Terra Sem Males" em um sonho realizável no interior de cada um.

Texto: Gládis Pippi

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