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Os caudilhos no Rio Grande

AutoriaVoltaire Schilling


O Caudilhismo

         O caudilho exerce um tipo de poder em sentido restrito. Sua dominação localiza-se em um grupo social determinado e pode estar fundamentada no costume ou tradição, na lei, na graça pessoal ou carisma. Em geral, o caudilho utiliza, como meios para obter essa dominação, o oportunismo político, militar ou religioso, meios econômicos especiais, qualidades peculiares como valor, audácia, poder de persuasão, inteligência, machismo, etc. e ainda o emprego de uma clientela mais ou menos numerosa que pode ser de diferentes classes e incluir desde grupos de camponeses em busca de proteção e ajuda até familiares e amigos, incluindo aqui relações de compadrio, e também, em alguns casos, a orientação de uma bandeira ou partidarismo político.

O Caudilhismo no Rio Grande do Sul

         O caudilhismo foi traço marcante no Rio Grande do Sul, em face da ocupação militarizada da área fronteiriça. Não pode ser dissociado de seu contexto platino, já que são constatadas aproximações e semelhanças.
         A oligarquia rural é fornecedora de caudilhos, revolucionários e legalistas, tanto em nível regional como nacional, já que a classe dominante rio-grandense, os estancieiros, fazia valer sua posição do poder central, em relação à classe dominante regional, ora apoiando o governo central, se houvesse interesses comuns, ora auxiliando os revolucionários, se em conflito com os interesses oligárquicos.

O Tempo dos Caudilhos

         Situa-se entre a independência da dominação espanhola e a consolidação territorial latino-americana.
         No Brasil, não há unanimidade entre os historiadores e estudiosos dos movimentos sociais sobre a existência e a importância de caudilhos em nossa história.
      Há manifestações caudilhescas desde os conflitos luso espanhóis na estruturação das fronteiras Argentina, uruguaia e riograndense. Os últimos a merecerem tal designativo pela imprensa foram Batista Luzardo e Leonel Brizola, nas décadas finais do século XX.


Bento Gonçalves

Estancieiro gaúcho, participou ativamente das campanhas brasileiras do Prata, sendo nomeado Comandante da Fronteira Sul e também Comandante da Guarda Nacional na região.
Chefe revolucionário e líder republicano na guerra dos farrapos. Segundo Rocha Pombo, “banditismo heróico, avesso, tanto ao predomínio de estranhos, como à própria ordem legal interna. A vida móvel e agitada fez do gaúcho um verdadeiro beduíno de campanha. O gaúcho criou o caudilho”.  

Proclamação 
        
“Rio-grandenses!  Raiou a aurora de vossa felicidade![...] O Brasil  em massa se levanta como um só homem para sacudir o férreo jugo do segundo Pedro. É este o momento de mostrardes ao mundo que sois rio-grandenses. Se assim fizerdes vereis em breve tremular o estandarte tricolor em todos os pontos da República; os riograndenses iludidos virão aos vossos braços, e não só salvareis a Pátria como sereis os libertadores do Brasil inteiro. Viva a liberdade!  Vivam os rio-grandenses! Vivam nossos irmãos paulistas! Viva a futura Assembléia do Rio Grande. 
                                                       
    Quartel General em Cacequi, 13 de julho de1842. 
                                                                    Bento Gonçalves da Silva. 


Bento Manoel Ribeiro

Durante a Revolução  Farroupilha, em função de seu temperamento singular, mentalidade “mais caudilhesca do que militar”, adotou posições controvertidas e aparentemente inexplicáveis. 
Militar experimentado e bem relacionado na campanha por laços de parentesco, dispunha de notável clientela. Militar de raros méritos: estrategista, tático, profundo conhecedor do terreno e com grande capacidade de nele se orientar. Líder em  combate, na combinação de infantaria e cavalaria. Conhecedor da psicologia de seus homens e dos  adversários, dentre estes, os caudilhos platinos. 



David Canabarro

Possuía grande tino militar. Entrou na Revolução Farroupilha um ano depois do seu início, como tenente-coronel, tendo sido promovido a general por suas estratégias de comando nos últimos anos do conflito.
Liderou campanhas militares no Rio da Prata. Era “rude,extravagante, descuidado de filigranas morais”, no dizer de Lindolfo Collor.


“Senhor, o primeiro de vossos soldados que transpuser a fronteira fornecerá o sangue com que assinaremos a paz com os imperiais. Acima de nosso amor à República está nosso brio de brasileiros. Quisemos, ontem, a separação de nossa pátria, hoje almejamos a sua integridade.Vossos homens, se ousarem invadir nosso país, encontrarão, ombro a ombro, os republicanos de Piratini e os monarquistas do senhor D. Pedro II”.

Resposta de Canabarro ao emissário de Rosas.

Antônio de Souza Neto

Para Garibaldi, Neto foi um modelo de cavaleiro. 
Não era muito “estratégico”. Era um “senhor da espada” e republicano. Defendeu com convicção seus ideais, proclamando a República Rio-grandense. Por suas  características pessoais, liderança, coragem, carisma e amor pela guerra, foi considerado um exemplo de caudilho na Revolução de 1835.



Gaspar Silveira Martins

Nascido na elite, era rebelde e agressivo. Ávido pela aclamação popular. Constituía o estereótipo do caudilho gaúcho. Alto, de peito cheio e corpulento, com uma barba farta e ajeitada.
Sua voz ressoante e mente ágil impressionaram todos os que o conheceram.
“Não sabia falar baixo (...). Quando saia do recinto onde tinha palestrado, parecia ficar durante algum tempo no ar, ressonando, o eco de sua voz (...). Era um homem fascinador das massas, condutor de homens, verdadeiro caudilho (...).”
Participou da Revolução de 1893. Líder do partido Republicano Federalista.

Gumercindo Saraiva

Caudilho da fronteira. Assumiu uma posição de comando dos homens do campo, que tinham especial admiração pela coragem física, destreza com que dominava  o cavalo e pela habilidade em manejar uma lâmina. Foi mais estrategista do que combatente, considerado por alguns, o “Napoleão dos Pampas”.
Tornou-se a esperança da Revolução Federalista, levando seus maragatos até o Paraná, ameaçando o governo do Presidente Floriano Peixoto. 



João Antônio da Silveira

Fazendeiro e republicano convicto, participou das campanhas platinas, o que lhe rendeu grande prestígio em armas. Integrante da Guarda Nacional, exerceu o poder militar na fronteira e nas Missões, reunindo por sua liderança e carisma, grande força na defesa da causa farrapa.
Terminada a Revolução, entra, ao lado do Império, nas lutas do Prata, contra Rosas, e participa, ativamente, da luta contra os paraguaios em Uruguaiana.

Firmino Paim Filho

Em 1923, quando inicia a revolução maragata, Firmino Paim Filho, que era um dos maiores fazendeiros da região nordeste do Estado e coronel da Guarda Nacional, organizada a Brigada provisória do Nordeste, com a qual deu permanente combate às tropas do revoltoso caudilho Felipe Portinho. Em 1924, por ocasião da Revolta dos Tenentes, novamente organiza uma coluna para enfrentar Luís Carlos Prestes, perseguindo-o pelo interior do Brasil.

Firmino de Paula

Grande fazendeiro, teve fundamental importância na propaganda republicana. Era coronel da Guarda Nacional ao iniciar a Revolução Federalista, comandando a 5º Brigada da Divisão Norte, sendo o principal adversário em armas de Gumercindo Saraiva.
Em 1923, chamado novamente pelo governo, organiza ecomanda, com oitenta anos, a Brigada Provisória do Norte com a qual deu combate aos revoltosos maragatos.

José Antônio Flores da Cunha

Nasceu em Santana do Livramento.Conforme Arthur Ferreira Filho, teria sido o maior caudilho do moderno Rio Grande do Sul, se não o “prejudicasse” a cultura jurídica e literária. Aderiu á Revolução de 1923, pelo desejo de defender o Partido Republicano. Adquiriu fama de valentia por combater e vencer várias vezes.
Ficou conhecido por sua estratégia de guerrilha. “Era homem do Pampa”, impulsivo, violento, amável, emotivo até as lágrimas, capaz de atrair e repelir, de fazer amigos dedicados e inimigos rancorosos.

Joca Tavares

Líder militar, fundador do Partido Federalista e um forte opositor do PRR. Participou de combates contra o governo castilhista, comandou as articulações com os exilados e conquistou o apoio de caudilhos uruguaios para lutar na Revolução Federalista.

Juca Tigre

Entre os caudilhos maragatos de 1893, não pode se esquecer o Coronel José Serafim de Castilhos, conhecido na paz e na guerra pelo apelido de Juca Tigre.
Era um gaúcho de São Gabriel, violento na ação, mas acessível aos sentimentos de generosidade.

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