Felipe Simões Pires
Acadêmico de Filologia Alemã da Universidade de Berlim
Ponto de Vista
Desde a década de 90, aprendemos a reagir automaticamente e sem pensar quando ouvimos a palavra separatismo. Obrigaram-nos a associar a palavra a racismo, egoísmo, preconceito, raiva. Não restou muito espaço para discutir. Mas o que significa isso na verdade?
É verdade, por acaso, que um gaúcho que defenda voltar à condição de república independente o faz por ódio aos brasileiros? Por querer se ver livre dos pobres do Brasil? Por que se acha melhor? E o que deseja seguir atrelado ao Brasil? Por amor ao samba, à pobreza, à criminalidade e por achar que não é capaz de caminhar com as próprias pernas?
A verdade é que nunca deixamos de repetir à boca pequena “se fôssemos um país” ou “como seria?”. A verdade é que quase todo gaúcho pensa que temos esse direito, que isso seria um bem para nós mesmos, que somos suficientemente diferentes para refundarmos um país. Afinal, quem nunca se pegou fazendo esse tipo de divagação?
O problema é que alguém tem o direito de pensar o que quiser nesse sentido, mas não pode dizer a palavra separatismo, porque é feio. Ou pior, não pode falar isso em público ou perto de um brasileiro, senão pensarão que ele é nazista. Ora, que povo é esse? O mesmo gaúcho que, dizem, não tem medo de defender suas opiniões?
Além disso, também existe o medo de não funcionar. O medo de sermos inviáveis enquanto país. Acontece que diversos levantamentos já comprovaram a viabilidade de um Rio Grande independente. E se dinheiro fosse motivo de medo, o que seria do Timor, do Congo, do Haiti? Voltariam a ser colônia?
No dia 11 de setembro de 1836, os farroupilhas creram na nossa independência e declararam-na, enfrentando militarmente o maior império da América Latina. E hoje? Os gaúchos têm medo de ter de importar trigo, como já faz Visualizaro Brasil?
Independentemente da posição que tenha, já está mais do que na hora de os gaúchos pararem de ter medo da palavra separatismo e, antes de opinarem, buscarem mais informações sobre o tema e renunciarem a chavões consagrados pelo exército dos não-pensantes.